Mallet / Nemo | Romancistas Essenciais - Pardal Mallet | E-Book | sack.de
E-Book

E-Book, Portuguese, Band 17, 100 Seiten

Reihe: Romancistas Essenciais

Mallet / Nemo Romancistas Essenciais - Pardal Mallet


1. Auflage 2020
ISBN: 978-3-96858-702-8
Verlag: Tacet Books
Format: EPUB
Kopierschutz: 6 - ePub Watermark

E-Book, Portuguese, Band 17, 100 Seiten

Reihe: Romancistas Essenciais

ISBN: 978-3-96858-702-8
Verlag: Tacet Books
Format: EPUB
Kopierschutz: 6 - ePub Watermark



Na coleção Romancistas Essenciais o crítico August Nemo apresenta autores que fazem parte da história da literatura em língua portuguesa. Neste volume temos Pardal Mallet, um jornalista e romancista brasileiro, patrono da cadeira 30 da Academia Brasileira de Letras. Não deixe de conferir os demais volumes desta série! Essa obra inclui: - O Esqueleto. - O Hóspede.

João Carlos de Medeiros Pardal Mallet (Bagé, 9 de dezembro de 1864 Caxambu, 24 de novembro de 1894) foi um jornalista e romancista brasileiro, patrono da cadeira 30 da Academia Brasileira de Letras.

Mallet / Nemo Romancistas Essenciais - Pardal Mallet jetzt bestellen!

Weitere Infos & Material


I
Como no relógio da parede soassem quatro horas, Nenê, num movimento de desânimo, deixou escorregar-lhe pelo corpo abaixo o jornal que estava a ler distraidamente. Algum pensamento triste acabrunhava-a. Tanto que por sob as madeixas sedosas da franja adivinham-se umas rugazinhas pequeninas a franzir-lhe a testa, aproximando-lhe os sobrolhos levemente arqueados. Veio-lhe um gesto grande de inquietação e com o pezinho delicado batia febrilmente no assoalho. Depois o braço torneado e alvadio, nas curvaturas graciosas fortemente desenhado pela manga estreita do casaco, apoiou-se ao encosto da cadeira de balanço para suster mais comodamente a cabeça gentil dos traços finos numa pureza ideal de Juno. E dali seus olhos verde-azulados - imensos lagos de ternura a desafiar os pescadores do amor, volveram-se languidamente, absortos na contemplação daquele quadro holandês todo feito com a mansuetude da vida caseira. A luz viva de um sol, que ao termo da viagem galopava ligeiro com pressas de pernoitar na grande hospedaria do ocaso, entrava francamente pelas janelas abertas clareando aquele salão de gosto antigo, de uma grande prodigalidade de madeiras severas e embaciadas, sem o falso brilho dos vernizes. No fundo escuro paredes forradas em imitação de grandes panos de carvalho embutidos em largos caixilhos de mogno; e a harmonizar-se com elas uma pesada mobília Luís XIV de altos espaldares cheios de obras de entalhe. Apenas como nota vibrante e alegre - o refrangir dos cristais e dos serviços de eletro-prata a rebrilhar no grande armário envidraçado; e no centro da casa a mesa elástica já convenientemente preparada para o jantar com a toalha alvejante e o branco luzidio dos pratos dentre os quais se erguia, a tocar quase no lustre bronzeado, a fruteira de bacará - pirâmide alaranjada que se terminava floridamente num grande ramo de crótons. No meio deste espetáculo, como a imagem da vida, sonolenta nas paixões, petrificada em sua impassibilidade, o vulto nobre e altivo de d. Augusta. Sentada junto à janela oposta, em uma cadeira baixa a contrastar com a uniformidade da mobília, tendo junto a si uma pequena mesa de costura sobre a qual repousava uma cestinha de vime, entretinha-se em alinhavar umas camisinhas de criança que ia jogando no chão à medida que as aprontava. Suas mãos longas e delicadas de aristocrata moviam-se em grande volubilidade. E por sobre tudo isto a sua cabeça de velha que atravessou uma existência calma, nua de desgostos, conservando a sua pele acetinada, tendo apenas branqueado os cabelos ao suceder dos anos. Uns cabelos formosos e bastos que penteava em grandes bandos por cima das orelhas às quais se suspendiam uns compridos brincos de charão. E Nenê esquecia-se do tempo. Achava aquilo tão bonito. Vinha-lhe uma sensação boa de felicidade a beijar-lhe o colo quase nu sob o rendilhado do casaco. Encolhe-se toda na cadeira num gesto elegante de gata friorenta e deixou que o seu olhar boiasse a flux do lago de mansidões. Para que incomodar-se? Ela sentia-se tão bem naquele descanso do organismo inteiro. Demais não estava com fome. Não valia a pena inquietar-se por tão pouco. O jantar podia muito bem ser demorado um bocadinho. E deixou que a embalasse o oscilar da cadeira, seu pezinho delicado surgindo de entre as saias a desenhar-lhe os contornos sensuais da perna. Voltara-se para as bandas de fora. Gostava do verde escuro das folhagens espessas, e achava graça na voz do vento a sibilar pelas ramadas. Além, no branco arenoso da alameda brincava o filhinho louro muito entretido em encher de terra os vagões de um pequeno trem. Estava tão bonito com a sua roupa azul de marinheiro e o rosto inteligente e rosado a enquadrar-se na moldura dourada de suas longas madeixas! E Nenê sorria-lhe mostrando-lhe os dentes alvos, toda embebida nesse espetáculo, com vontades de ir brincar também, de beijá-lo muito e muito, nuns grandes pruridos de maternidade. Entretanto o relógio batera quatro e meia. D. Augusta levantara-se e reunia as costuras. A coisa não podia ficar assim! Era preciso dar-lhe uma decisão, e já que o Pedro não vinha, jantarem sem ele! Nenê protestava. Ainda poderiam esperar mais um bocadinho. Pelo menos até cinco horas. E novamente umas rugazinhas pequeninas franziram-lhe a fronte. Qual o motivo dessa desacostumada tardança? Ter-lhe-ia acontecido algum contratempo? Repassava na memória todas as possíveis eventualidades. Semelhantes perspectivas repugnavam-lhe. Em tais condições ela sempre receberia muito cedo a triste notícia. Mas voltavam-lhe visões fantásticas de desastres por mais que ideasse para afugentá-las uns pensamentos alegres. Veio-lhe então um grande desânimo, um abandono de si mesma. Que necessidade havia de preocuparem-na com estes assuntos! E forcejava em voltar ao quietismo de idéias em que se lhe absorvia a existência inteira. II
Ouvira-se porém o parar de um carro e os gritos alegres do menino que correra para o portão. Nenê debruçara-se na janela, intimamente sobressaltada, presa ainda daqueles pesadelos medonhos de suas cismas de havia pouco, querendo saber do que se tratava, receosa ao mesmo tempo de conhecer a realidade que podia muito bem não lhe deixar a zona vaga da esperança onde arquitetar um castelo de felicidades. O ver o marido que caminhava alegre trazendo o filhinho ao colo foi-lhe de um grande alívio. Respirou mais livremente, como se lhe tivessem tirado de sobre o peito algum peso que a oprimia. Correu ao seu encontro, desejosa de abraçá-lo logo e logo, de lhe fazer mil perguntas, de conhecer a causa de semelhante demora, cheia de contentamentos, feliz até com as suas primeiras apreensões que lhe faziam saborear com muito mais prazeres aquele beijo afetuoso que ia receber. E foi com a fisionomia assim animada, numa grande gentileza de movimentos, que ela se lhe ofereceu ao costumado ósculo vespertino. No afã de abraçar o Pedro não reparara que ele vinha acompanhado por um outro homem; e ao vê-la - essa fisionomia estranha que divisava pela primeira vez - ficou muito perplexa, levemente ruborizada, não sabendo o que devia fazer nem como acolhê-la. Ao rápido relancear de olhos com que o examinara pareceu-lhe achar-se em presença de um amigo e julgou prudente dar-lhe um desses sorrisos benévolos de mulher bonita. De mais achou-o muito simpático, com a sua epiderme fina, olhar azul e cabelos castanho-claros. E como o marido lhe pegasse no rosto e a beijasse longamente nas duas covinhas da face fez-se de muito escandalizada. Mas o Pedro gostou desse movimento arisco de pombinha branca que limpa as penas e voltou-se para o companheiro com uma risada franca e jovial. A mulher tinha dessas coisas! Também a culpa era dele que não começava pelo princípio e estava de braços cruzados em vez de apresentá-lo! E para obviar o esquecimento foi logo dizendo à moça que aquele era o Marcondes - o tal companheiro de colégio de que lhe falava tantas vezes. Então os dois cumprimentaram-se quase como velhas relações, conhecendo-se um ao outro por intermédio do Pedro, contentes de se verem, achando-se mais ou menos semelhantes às pinturas que deles havia feito o amigo comum. Agora Nenê examinava-o mais detidamente e agradou-se muito do seu aspecto correto com as roupas elegantes e os bonitos bigodes cuidadosamente retorcidos; e o rapaz por seu turno deixava-se prender pela atmosfera atraente de canduras que parecia circundá-la em suas formas graciosas de mulher bem feita. Não havia porém tempo a perder! Era preciso quanto antes aprontar o quarto lá de cima do sótão porque as malas já estavam em caminho e chegariam de um momento para outro! E o Pedro entrou em explicações. Estava na rua do Ouvidor quando se encontrara com o amigo que naquele instante mesmo desembarcara de Pernambuco onde acabava de se formar, e andava à procura de um hotel. Ele entendera de seu dever não consentir em semelhante projeto, e trazê-lo para casa na qual se acomodaria muito bem porque o sótão tinha uma entrada independente. Além disto era questão de dias, apenas enquanto o Marcondes arranjava uma promessa de promotoria! Esta resolução do marido surpreendeu-a algum tanto, se bem que já estivesse habituada a semelhantes inconsiderações de franqueza. Dentre todas as coisas preocupava-a essencialmente a forma pela qual a mãe receberia a notícia. Sabia-a muito cheia de etiquetas e de severidades no tocante a certos assuntos e de mais a mais de algum tempo para cá andava a evitar um choque entre a velha senhora e o marido. No final das contas e apesar dessa aparência de afabilidades em que viviam sentia haver de parte a parte um quer que fosse de hostil. Mas o mal já estava feito, não havia mais possibilidade de dissuadir o marido da idéia e a única obrigação pareceu-lhe o ajudá-lo na empresa. Foi em tais disposições de espírito que ela dirigiu-se para o interior da casa a fim de ordenar as arrumações necessárias. Manobrou porém de forma a achar-se presente quando o Pedro apresentou o amigo a d. Augusta que, muito tem educada e gostando pouco de escândalos, contentou-se em corresponder-lhe com uma grande frieza. Mas tanto ele como o Marcondes, atarefados com as malas que acabavam de chegar, não se aperceberam disto. Ambos tratavam de acondicionar tudo aquilo da forma mais rápida possível, desejosos de se porem à fresca e com grande apetite porque tinham apenas tomado uma xícara de café ali no beco das Cacelas. E era então um desencontrado de opiniões, uma grande lufa-lufa que demorava ainda mais o serviço. Só depois de meia hora de contínuos e intermináveis...



Ihre Fragen, Wünsche oder Anmerkungen
Vorname*
Nachname*
Ihre E-Mail-Adresse*
Kundennr.
Ihre Nachricht*
Lediglich mit * gekennzeichnete Felder sind Pflichtfelder.
Wenn Sie die im Kontaktformular eingegebenen Daten durch Klick auf den nachfolgenden Button übersenden, erklären Sie sich damit einverstanden, dass wir Ihr Angaben für die Beantwortung Ihrer Anfrage verwenden. Selbstverständlich werden Ihre Daten vertraulich behandelt und nicht an Dritte weitergegeben. Sie können der Verwendung Ihrer Daten jederzeit widersprechen. Das Datenhandling bei Sack Fachmedien erklären wir Ihnen in unserer Datenschutzerklärung.