Kallentoft | Anjos Perdidos em Terra Queimada | E-Book | www2.sack.de
E-Book

E-Book, Portuguese, 424 Seiten

Kallentoft Anjos Perdidos em Terra Queimada


1. Auflage 2011
ISBN: 978-972-20-5012-8
Verlag: D. QUIXOTE
Format: EPUB
Kopierschutz: Adobe DRM (»Systemvoraussetzungen)

E-Book, Portuguese, 424 Seiten

ISBN: 978-972-20-5012-8
Verlag: D. QUIXOTE
Format: EPUB
Kopierschutz: Adobe DRM (»Systemvoraussetzungen)



É o verão mais quente de que os habitantes da província de Östergötland, no centro da Suécia, têm memória. A cidade de Linköping derrete com o calor e nas florestas os incêndios estão fora de controlo, tornando o ambiente sufocante. A inspectora Malin Fors é chamada ao parque municipal, onde uma adolescente foi encontrada nua e coberta de sangue. Quem telefonou a informar que a encontrariam ali? E afinal o que é que realmente lhe aconteceu? Enquanto a polícia se debate para dar resposta a estas perguntas, outra rapariga desaparece e uma descoberta arrepiante tem lugar numa praia fluvial nos arredores da cidade. Malin, que tem uma filha adolescente, teme pela sua segurança e, provavelmente, não está a exagerar. Anjos Perdidos em Terra Queimada é o segundo volume da excepcional tetralogia de Mons Kallentoft que tem na inspectora Malin Fors a principal personagem que os leitores começaram a conhecer em Sangue Vermelho em Campo de Neve. Nesta nova história somos transportados para um enredo perturbador onde os preconceitos sexuais, a desconfiança face aos imigrantes, os amores desesperados e o ódio acumulado ao longo dos anos dão origem a um arrepiante cenário de crime e mistério.

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CAPÍTULO 1

QUINTA-FEIRA, 15 DE JULHO

QUE BARULHO É ESTE, QUE RESSOA?

É a chuva que se faz anunciar. Trovoada. Finalmente, um pouco de água para refrescar a terra.

Mas Malin Fors não se deixa iludir. O calor deste verão veio para ficar, decidiu secar a vida na terra e a chuva não cairá tão cedo.

Através da algazarra dos outros clientes do pub, Malin pode ouvir o ruído do ar condicionado, a protestar contra os seus longos e exigentes turnos de trabalho, contra o facto de, neste verão, as horas extraordinárias não terem fim. A máquina parece estar prestes a falhar, estala, geme e parece dizer: «Basta, basta, basta. Vão ter de aguentar o calor ou combatê-lo com uma cerveja. Nem mesmo uma máquina como eu aguenta tanto.»

Está na hora de voltar para casa?

Está sozinha, sentada ao balcão do bar. Quarta-feira já se transformou em quinta-feira e o relógio já marca quase uma e meia da madrugada. O Pull & Bear está aberto todo o verão e os clientes que estavam a beber lá fora fugiram do calor e vieram refugiar-se neste paraíso fresco.

As garrafas estão alinhadas nas prateleiras, mesmo à frente do espelho.

Tequila. Envelhecida em barris. Dose simples ou dupla?

A humidade condensada no copo de cerveja acabado de servir, o cheiro a suor e a álcool antigo e entornado.

Malin vê o seu rosto refletido nos espelhos do bar, em todos os ângulos. Milhares de reflexos do mesmo rosto. Tem a pele levemente bronzeada do sol, o cabelo loiro cortado mais curto do que é habitual por causa do calor.

Malin descera até ao pub quando terminou o filme na televisão. Era uma produção francesa sobre uma família disfuncional em que uma mulher acabou por tirar a vida à irmã. Realismo psicológico, foi o que disse o apresentador. E, de facto, podia dizer-se que sim, que era mesmo, embora a ação das pessoas, na vida real, não seja tão clara e tão fácil de perceber como no filme.

O apartamento tinha-lhe parecido demasiado vazio e ela não se sentia suficientemente cansada a ponto de ir para a cama dormir. Não, estava bem acordada, a sentir a solidão escorrer pelas paredes assim como o suor pelas costas e por baixo da blusa. Os tapetes da sala de estar cada vez mais desgastados. O relógio Ikea da cozinha que, de repente, um dia, em maio, perdera o ponteiro dos segundos, as facas que perderam o fio e precisavam de ser afiadas para um nível mais aceitável, todos os livros de Tove nas prateleiras, a última aquisição ainda alinhada na terceira prateleira. Títulos difíceis para um adulto, quanto mais para uma adolescente de catorze anos.

O Homem sem Qualidades. Os Buddenbrook. O Príncipe das Marés.

Ler é um passatempo infinitamente mais interessante do que qualquer outra coisa que uma rapariga de catorze anos possa inventar.

Malin toma mais um gole de cerveja. Ainda não se sente cansada. Será realmente solidão? Ou outro sentimento?

A calma estival na Judiciária não lhe dá trabalho suficiente para se sentir cansada ou para a deixar obcecada com o trabalho. Desejou o dia inteiro que alguma coisa acontecesse.

Mas nada aconteceu.

Nenhum morto foi encontrado. Ninguém telefonou a anunciar um desaparecimento. Nenhuma violação. Enfim, nada de extraordinário, a não ser o calor e os incêndios espontâneos nas florestas, principalmente em Tjälmo, que não se deixavam impressionar pela água dos carros de bombeiros. A cada dia, o fogo «engolia» hectares e mais hectares daquela magnífica floresta.

Ela pensa nos bombeiros que trabalham sem parar, todos voluntários. Nos carros-patrulha da polícia que ajudam a desviar o trânsito, mas nenhum trabalho para ela e para o seu colega Zeke Martinsson.

Quando o vento sopra do lado das florestas sente-se o cheiro do fumo dos incêndios, passando por toda a cidade de Linköping, toda ela envolta por um calor diabólico, dia e noite, provocado por ventos quentes do sul. O verão mais quente na memória dos homens.

E das mulheres, também.

Malin bebe mais um gole de cerveja. O gosto amargo e frio alivia o calor que ainda subsiste no seu corpo.

Lá fora, a cidade parece suar, de dia fica com uma cor de sépia mate. Linköping está vazia. Só ficaram os que têm de trabalhar ou os que não têm dinheiro suficiente para partir ou algum sítio para onde ir. A maioria dos estudantes da universidade voltou para as suas cidades. As ruas estão sem gente, mesmo durante o dia. Parecem as ruas de uma cidade fantasma. As lojas apenas estão abertas porque têm de estar, por força de um contrato. Apenas uma delas está a fazer negócio: a gelataria Bosses Glassbar que faz uns sorvetes, seguindo uma receita particular, num buraco na rua do hospital, a Hospitalgata. É o único lugar onde há gente a fazer fila o dia inteiro. É um mistério como toda aquela gente chega à Bosses sem ser vista pelo caminho.

Está tão quente que ninguém tem vontade de se mexer.

Trinta e oito, trinta e nove, quarenta graus. E anteontem foi estabelecido um novo recorde de calor para a cidade: quarenta e três graus, vírgula dois, na Estação Meteorológica de Malmslätt.

«Novo recorde de calor!»

«Batido o recorde anterior.»

«Este verão não tem comparação com nenhum outro.»

São as manchetes do jornal Östgöta Correspondenten, geralmente conhecido por Corren, a comentar a situação com uma energia e uma alegria que não correspondem ao estado de espírito da cidade atacada pelo calor.

Os músculos protestam, o suor escorre pelos corpos, os pensamentos derretem-se, as pessoas procuram incessantemente as sombras, a frescura. A cidade está letárgica, tal como as pessoas. Há no ar um cheiro a poeira e a fumo que não vem dos incêndios nas florestas, mas da relva que se consome lentamente, sem chamas.

Nem uma gota de chuva desde o primeiro dia de verão, o sommardag. Os agricultores falam de calamidade e hoje há um artigo no Corren da grande estrela do jornalismo local, Daniel Högfeldt, em que ele cita um professor do Hospital Universitário, dizendo que, com aquele calor, qualquer pessoa que faça um trabalho braçal no exterior deve beber no mínimo de um litro e meio a dois litros de água por dia.

Pessoas que façam um trabalho braçal?

Será que ainda existe algum trabalhador braçal em Linköping?

Aqui há apenas professores, engenheiros, informáticos e médicos. Pelo menos, essa é a sensação que se tem. Mas esses fugiram todos.

Mais um gole da terceira cerveja faz com que Malin se descontraia, se bem que, na realidade, o que ela precisa é de uma injeção de adrenalina.

Os clientes do bar saem, um a um. E ela sente como a solidão ocupa cada vez mais espaço.

Oito dias antes, Tove estava de mala pronta no hall, cheia de roupa e de livros, alguns novos que ela mesma comprara. Janne, o pai, atrás da filha. E Pecka, a amiga do pai, na rua, com o seu Volvo, pronta para lhes dar uma boleia para Skavsta.

Malin mentira a Janne quando ele lhe pedira uma boleia para o aeroporto, dias antes. Recusara, dizendo que tinha de trabalhar. Na realidade, queria manter as distâncias, mostrar-lhe que estava aborrecida por ele ter insistido em levar Tove com ele, para o outro lado daquele maldito planeta.

Bali.

Janne ganhara a viagem num sorteio entre os funcionários do município. O primeiro prémio para o «Grande Bombeiro».

Um sonho para Tove e para Janne. Apenas pai e filha. Para os dois, a primeira grande viagem juntos. Para Tove, a primeira fora da Europa.

Malin receara que Tove não quisesse viajar com o pai, por não querer ficar longe de Markus, o namorado, ou porque os pais do namorado, Biggan e Hasse, tivessem outros planos para eles.

Mas Tove ficara feliz.

– O Markus vai ficar bem – dissera ela.

– E eu? Como é que eu vou ficar bem sem te ter perto de mim?

– Mãezinha! É simplesmente perfeito: vais poder trabalhar tanto quanto quiseres, sem ficar de consciência pesada por minha causa.

Malin quis protestar. Mas todas as palavras em que pensava pareciam-lhe descabidas e, pior ainda, falsas. Quantas vezes Tove não teve de preparar a sua própria refeição e ir para a cama sem ver a mãe, só porque ela estava ocupada com algum caso?

Abraços no hall, Janne já a segurar a pega da mala de Tove.

– Tenham cuidado.

– Tu, também, mãe.

...



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